Respeito

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Se há coisa que aprendi com a minha mãe e de que nunca me esquecerei é que o respeito não é algo que se deva ou cobre.
Da mesma maneira que o respeito não se deve nem se cobra a ninguém, o respeito também não é algo que se dá nem recebe.
O respeito é, sim, uma condição, um patamar que se atinge. É como um espaço psicológico em que circulamos, um lugar onde a nossa pessoa habita, em que o respeito em si deixa de ser uma acção, para passar a ser um estrato atmosférico, um ar que se inala e exala. E quem dessa atmosfera respira vive em respeito, o que resultará, inevitavelmente, em respeitar os outros, e em ser respeitado, sem a necessidade de o pedir nem de lutar por isso.
Note-se: a utilização da palavra "estrato" em nada se relaciona com estatuto social ou económico, aspecto físico, nem mesmo opiniões, crenças, ou estilos de vida. Este estrato é um lugar totalmente acessível a qualquer um.
E talvez por isso é que exista a expressão "dar-se ao respeito", e por isso é que gosto dela.
O respeitar, em si, não é a parte activa; a parte activa é o passo antes de demonstrar respeito e ser respeitado. A acção está no trabalho pessoal e interpessoal feito por nós para atingir a condição de respeito, e estará também no momento em que nos entregarmos a esse estado, isto é, quando "nos dermos ao respeito". E o "demonstrar respeito e ser respeitado" virá, então, quase passivamente.
O mais trabalhoso de toda a parte activa é o tal trabalho pessoal e interpessoal. A verdade é que este é um trabalho demorado porque envolve principalmente o moldar da personalidade e o adequar das ideologias, princípios, e valores, e também requer um grande amor ao próximo assim como a si mesmo. Ser uma pessoa de respeito requer respirar e transpirar valores como o apreço, a consideração - e isto não é gostar da pessoa, mas é reconhecer nela o valor que ela tem, e que é o mesmo que o nosso. Ser uma pessoa de respeito requer características como a assertividade, a longanimidade, o auto-controle, o saber quando argumentar e quando calar, entre muitas outras. Ser uma pessoa de respeito requer fazer compromissos como amar o outro - e volto a dizer: isto não significa, necessariamente, gostar do outro.
Estando neste caminho, chegará um momento em que será inevitável dar-nos a esta atmosfera, integrá-la, confiando que não mais precisaremos de dar nem receber justificações de ninguém, pois dar-nos ao patamar do respeito inclui aceitar que qualquer outro ser vivo, independentemente de seja o que for, é tão digno deste ar como nós. E isso não é fácil.
Todo esse esforço, por nossa parte, será contra-natura, porque o nosso eu, para além de querer ser respeitado a todo e qualquer custo, não quer, por norma, ser respeitoso em relação a coisas que o contradigam ou incomodem.

Não concordo com os dicionários na definição de respeito.
Tenho visto que respeitar não é concordar, não é obedecer, não é ser submisso, nem sequer é tolerar, no sentido da palavra em que o sujeito tolerante não se sente incomodado pela acção do tolerado. Sim, porque, notícia de última hora: é possível sentir-se incomodado por algo e, mesmo assim, respeitar. Nem sequer debater educadamente sobre um assunto significa que se respeite o assunto ou a pessoa com quem se debate. E, tal como é possível respeitar sem concordar, também é possível obedecer e ser submisso sem, no fundo, respeitar.

Por isso é que o atingir do estado de respeito é trabalhoso e difícil, e é por isso que respeitar e ser respeitado é  uma raridade hoje em dia. Nos dias de hoje, o respeito é visto, concebido, e definido da maneira errada.
A parte mais custosa de respeitar não é aquele momento em que o respeito é necessário; é, sim, o chegar ao patamar em que se é, continuamente e por natureza, uma pessoa de respeito.
E essa caminhada, que foi iniciada aquando do nosso primeiro conceito sabido na vida, e que nunca deixaremos de caminhar até ao nosso último pensamento, essa caminhada, e essa entrega à condição de respeito, tudo isso é que é o verdadeiro respeitar e fazer-se ser respeitado.

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