constelação de memórias





É impressionante como todos querem que sejamos inovadores, diferentes...

Vou mencionar os professores porque são eles os principais manifestantes desse desejo que a sociadade tem para nós: os professores apelam-nos constantemente para que sejamos criativos, proactivos; mas quando, de facto, quebramos o nosso comodismo e pomos em práctica alguma ideia, quando fazemos algo novo que nem sequer destrói o sistema mas chocalha-o de alguma forma e definitivamente traz algo de inédito, quando finalmente mostramos que somos capazes de agir e fazer algo que não nos tenha sido ordenado ou sequer pedido, bom, é impressionante como, quando somos, de facto, inovadores, diferentes, proactivos e criativos, a primeira reacção de muita gente é de rejeição.

Devo admitir: maior parte dos meus professores incitam-nos a sair da caixinha, incentivam-nos à extracurricularidade, mas são poucos aqueles que de facto nos acompanham ou sequer parabenizam quando tomamos a tão esperada iniciativa. São ainda menos os que, depois, mostram apreço pelo que fizémos aquando do nosso surto de actividade. Escassos serão, então, os que demonstram esse apreçço como primeira e espontânea reacção quando lhes dizemos "veja, professor, fiz isto". É incrível o quão elevada é a taxa de reacções que se aproximam assustadoramente do "não gosto porque é diferente".

Levo bem guardados (se é que posso utilizar o plural) no meu coração os professores que não só me encorajaram a inovar, a pensar, a ser, e a fazer, como também me inspiraram, e, mais importante, me deram os parabéns por, pelo menos, ter saído da zona de conforto, o que, nos dias de hoje, é admirável. Mais especiais ainda foram os dias em que tive direito a críticas construtivas, ou até mesmo a uma palmadinha nas costas verbal, em jeito de prova de orgulho e até, quem sabe, gosto pessoal pelo que eu estava a criar.

Novidade: o que me leva a criar não são aqueles apartes que interrompem a matéria e que soam mais ou menos a "vocês têm que ser mais criativos, façam qualquer coisa, desliguem-se desses telemóveis, parece que já nascem com os dedos no ecrã, e façam qualquer coisa de diferente, esta é a melhor época da vossa vida, aproveitem-na, sejam productivos, vocês têm tanta capacidade e inteligência mas não a aproveitam, ponham em práctica essas ideias que têm todo o dia, vão ver que vale a pena, eu quero mais disto, quero mais de vocês a participarem e a trazarem ideias". Não, nem por isso. É sempre bom ouvir coisas destas, é verdade. Nunca é demais. Mas não é isto que me leva a criar. A verdade é que eu não preciso de razões para criar. Todos nós temos talentos, e eu sei-o. Eu tenho imensa vontade de criar, eu tenho demasiadas ideias e gosto genuinamente de pô-las em práctica. A verdade é que dou por mim tendo não falta de razões para criar, mas abundância de razões para não o fazer. Eu, pessoalmente, continuo a criar porque eu vivo a arte, não vejo outro propósito na educação se não para treinar-me para isto, desenvolver-me para poder fazer o que gosto e criar coisas de que goste. Mas sei que maior parte dos meus colegas não cria nada pela mesma razão que eu, por vezes, me sinto desmotivada; é que, ao fim do dia, pouco ou nada do que fazemos com coração e inovação será de facto valorizado. Ao fim do dia, somos avaliados não como indivíduos talentosos com princípios e valor(es), mas sim como bons ou maus alunos. Ao fim do dia, aquele professor que discursou em tom motivacional vai fazer-nos pensar que o seu interessa por nós era forçado. Esse professor, se não for um dos escassos anjos que Deus colocou no Ensino, apenas vai "contabilizar" aquilo que nos foi ordenado e se foi ou não cumprido à risca, ele só vai "contar com" aquilo que nós decorámos de tudo o que ele disse e aquilo que nós entendemos daquilo que ele não disse. Esse professor vai acabar por fazer-nos ou odiar ou amar o sistema.

Quando o "sistema" devia ser uma ferramenta, e não uma estrutura. A estrutura devíamos ser nós, certo? Os professores devem incentivar-nos a mudar o sistema para melhor, não a "segui-lo". Por outras palavras, os professores deveriam ajudar-nos a melhorar-nos a nós próprios, que, afinal, somos o centro de tudo isto. Não simplesmente ajudar-nos a ter nota alta no exame. Isto não foi feito pelos exames. Isto foi feito por nós! O objectivo de estar na escola não é colocar-nos dentro de um molde. É, sim, dar-nos massa para a mão e ensinar-nos a moldar!

Alunos, pensem assim: o objectivo disto tudo não são os exames; é tudo o que nós aprendemos até sermos considerados capazes de fazer um exame!
Tomem este exemplo: alguém criou os exames. Foi um percurso demorado, mas alguém teve essa ideia, alguém os inventou. E francamente, pelo sucesso que estas porcarias fizeram, alguém deve ter parabenizado essa pessoa durante o seu processo de criação...

No entanto, esta entrada de Blog não é sobre os exames. É sobre a notável hipocrisia da sociedade, especialmente direccionada a nós, os artistas criativos cheios de ideias (algumas, francamente, geniais) e cheios de vontade de concretizá-las. Esta entrada é sobre o ambiente em que vivemos: um ambiente onde se geram maioritariamente indivíduos hipócritas, e onde nós, os restantes indivíduos, somos incentivados a fazer coisas que, já nós sabemos, serão ignoradas, rejeitadas, ou até desprezadas. E note-se: não me refiro a coisas que sejam moral ou eticamente condenáveis. Não me refiro a coisas erradas. Refiro-me a coisas novas.

Talvez até seja suposto ser assim. Talvez precisemos lembrar-nos que, ao longo da História, os maiores génios, as melhores personalidades, os maiores corações, e os mais desenvolvidos talentos... raramente foram reconhecidos pelos seus contemporâneos. Poucos eram percebidos, poucos eram aplaudidos, poucos eram seguidos, mas todos tinham "haters". Hoje, séculos depois, todos os admiram.
Quem é que precisa de lembrar-se disso? Os indivíduos inspirados, ou as comunidades onde eles estão?
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No matter what it is. No matter what the theme, discussion or point of view is. People want everyone to be open-minded... to THEIR point of view. They're closed-minded to yours. They accuse you of being intolerant and whatever-phobic. Then, they will make you feel bad for speaking out.
To them, the fact that you disagree with them is a threat, so their response is making you feel threatened because they disagree with you. They feel like they can't speak out if everyone's not on their side. They feel like, if people don't agree with them, their opinion is worthless. Consequently, they think that if they don't agree with other people, other people's opinions are worthless. So, appealing to you that you stop being so extremist and single-minded, they force you to let them speak out as if they couldn't before, and that's how they cut off your voice. They make you feel like your opinion is offensive, not worth the exposure or the thought, and they leave you thinking that maybe you're even wrong...
They don't care if it's an opinion, a belief, a thought, a comment, an idea, or even a bunch of facts. They will only stop arguing once you admit that what they're saying is what's right. To them, justice is what they want. They're not necessarily going to do the right thing, so they want you to believe that the right thing to do is exactly what they are going to do. They care about what you think, but they only respect it if it's what they think too. Because they will not accept a mere "agree to disagree", and a mere "I don't accept that but I will let you be because it's none of my business". No. They want you to accept what they do. That's how desperately unsure and insecure they are about themselves and their own beliefs. You might end up thinking that you need to agree with them. But the truth is, THEY need YOU to agree with them.
Once all of that has happened and, at last, you've come to agreeing with them, they'll be the nicest group of people towards you, and you'll join them in their "mono-opinion open-mindness".
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Uma jovem dos Açores.
Sou coleccionadora de memórias, e aqui está a minha constelação.

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