Igualdade, Justiça, Indiferenciação

by - 12:49



I G U A L D A D E
Será que igualdade significa dar tratamento igual a todos, ou tratar todos como iguais?

Na verdade, sim, vejo diferença em ambas essas situações.




Este é um cartoon com que me deparei há alguns anos, numa aula de filosofia.

Hoje, atrevo-me a reformular esta imagem, dizendo que o cenário da direita representa, na verdade, igualdade; representa justiça e igualdade. Assim, a meu ver, o da esquerda é, afinal, uma representação de um conceito errado de igualdade, que é, infelizmente, um dos ideais mais comuns do tratamento ao outro hoje em dia, que tem passado camuflado de igualdade: a indiferenciação.

Como podemos ver, no cenário que a ilustração representa como sendo igualdade, a todos lhes foi dado uma caixa do mesmo tamanho para que pudessem ver um jogo para além da vedação. O problema é que todos têm tamanhos diferentes, e a caixa igual acabou por deixar todos em posições diferentes. Na minha opinião, embora isso seja a igualdade no tratamento, não é a verdadeira e ideal igualdade, pois, no fim, todos mantiveram os problemas que se originavam das suas diferenças.

Passo a explicar: creio que a igualdade que se pretende atingir é mais uma simbiose da celebração dos aspectos positivos da diferença com a solução dos problemas que esta origina. Assim, como ilustrado no cartoon, o tratamento igual a todos não é igualdade. Porquê, exactamente?

O tratamento igual a todos provém de uma espécie de preguiça moral. Noto que quem idealiza dar tratamento igual a todos os indivíduos não reconhece o valor único que cada sujeito tem, e ignora as necessidades pessoais de cada um. É que necessidades diferentes requerem diferentes abordagens. Quem aborda todos os problemas do mesmo modo, coloca todos no mesmo saco, julgando que isso significará ser imparcial e justo. No entanto, termina em tudo menos justiça, e é, no fundo, um desrespeite de quem o outro é. Dar o mesmo tratamento a todos é a verdadeira indiferenciação, que resulta, então, em injustiça, e isso o cartoon já mostrou (embora chamando a indiferenciação de igualdade).

Agora vou mais além, e digo que a igualdade deve estar sempre associada à justiça. No entanto, isso é difícil de entender hoje em dia, num tempo em que a igualdade é tão comummente mal interpretada.

Daí a minha pergunta original: será a igualdade tratar todos por igual, ou tratar todos como iguais?

Tendo já concluído que a primeira opção não corresponde a igualdade, e sim a indiferenciação, quero agora explorar rapidamente a segunda situação, que acredito ser a verdadeira igualdade. Então, qual é a diferença entre tratar todos por igual e tratar todos como iguais?

A verdade é que a primeira situação do cartoon é enganosa. Facilmente se conclui que, ao dar o mesmo tratamento a todos, se está a tratar todos como iguais. Mas, na minha opinião, tratar todos como iguais vai muito mais além do que aquilo que se vê a olho nu. E aqui está a diferença: tratar todos como iguais não significa ver todos como se tivessem a mesma altura; e sim reconhecer que todos têm alturas diferentes, e todos têm direito a ver o jogo da mesma altura.

E aqui é que "a porca torce o rabo". Porque a verdade é que as pessoas não têm a mesma altura. Não se pode tratar todos por igual em aspectos em que ninguém é igual. Todos começamos iguais, mas crescemos, evoluimos até tornar-nos todos diferentes em aparência, personalidade, memórias, sonhos, desejos, pontos de vista, enfim, podemos resumir tudo isso àqueles três grandes pontos que moldam a cada ser humano de maneira diferente: hereditariedade, educação, e meio envolvente. Há que reconhecer essas diferenças, pois isso é crucial para que haja justiça. Tratar as pessoas com justiça é tratá-las tendo em conta essas diferenças. Tratá-las com igualdade é tratá-las tendo em mente o facto de que, antes e para além dessas diferenças, somos todos iguais. E, na minha opinião, ambos esses conceitos podem e devem ser praticados em conjunto. Mas para chegar aí, há que expandir a mente de duas formas. Há que expandi-la de modo a perceber que, como espécie, somos todos iguais, e expandir a mente também para conseguir copular os dois pensamentos: como espécie, somos todos iguais, e como indivíduos, não há duas pessoas iguais.

Quando se consegue pensar assim, atinge-se o segundo contexto do cartoon: aquilo que eu disse que representava a justiça e a igualdade.

Nessa situação, rejeita-se a indiferenciação ao reconhecer que todos têm características diferentes, sendo, assim, justos para cada um, e pratica-se a igualdade porque se reconhece e respeita em cada um o valor de uma vida, e se lhes dá a possibilidade de experimentar a realidade do mesmo modo. Não com as mesmas ferramentas, mas com as ferramentas adequadas, que lhes permitam aproveitar a vida ao máximo e do melhor modo, sem deixar de ser quem são. Assim, praticando a verdadeira igualdade e justiça, cada um será a melhor versão de si mesmo.

You May Also Like

0 comentários